Santa Quitéria 167 Anos: Protesto em defesa dos trabalhadores rurais levou à prisão arbitrária de seis quiterienses

Fotos: Arquivo

Em 12 de maio de 1998, dia da abertura da festa da padroeira, Santa Quitéria foi palco e acompanhou uma manifestação pela garantia dos direitos dos mais vulneráveis: o que começou como um ato organizado para dar assistência aos trabalhadores rurais, flagelados pela seca e pela fome, acabou descambando para o autoritarismo, com seis prisões arbitrárias e políticas, de vereadores e sindicalistas.


Por volta das 7h, milhares de agricultores se concentraram de forma pacífica na entrada da cidade, no bairro Boa Vida, para cobrar do prefeito a época, Luciano Lobo, que fossem atendidas duas reivindicações: abertura de 11 mil vagas nas frentes de trabalho e caminhões-pipas para abastecer os assentamentos, descartando qualquer hipótese de saques a comércios ou invasões a prédios públicos.


Minutos depois, policiais militares foram até o local e chamaram algumas pessoas para comparecerem à Delegacia (que funcionava próximo a Igreja Matriz). Ao chegarem lá de forma espontânea, o delegado José Vieira da Mata Filho, o Maranguape, decretou voz de prisão aos vereadores José Wellington e Nonato Araújo, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Elias Barbosa, o técnico da Ematerce Anastácio Parente, o auditor fiscal da Sefaz Paulo Régis Moura, a advogada Rossana Magalhães e o comerciante Lino Paiva.


Maranguape deteve o grupo de forma descabida, sob ordens do prefeito, com acusação de que estes estariam supostamente incentivando saques a comércios, bem como apologia ao crime e formação de quadrilha. A notícia caiu como uma bomba na cidade, levando os trabalhadores a ficarem em vigília, cobrando justiça e acompanhando até a soltura. “Lá fora, tem um bando de famintos e o que está trazendo este povo para a sede é a fome”, declarou Elias.

Vários advogados compareceram também na delegacia, bem como os deputados João Alfredo e Cândida Figueiredo, tomando assim gigantesca proporção. “Ficamos mantidos como reféns, o delegado afirmou que só libertaria se voltassem para suas comunidades, queria abortar o movimento”, conta Rossana.


Depois da intervenção e apelos da OAB, a advogada foi a primeira a ser solta, por volta do meio-dia, enquanto os demais ficaram sob custódia até por volta das 18h40, quando o juiz concedeu um habeas corpus libertando-os, considerando as detenções ilegais. “Verdadeiro abuso de autoridade, estranha a existência nas mãos do delegado, uma lista com nomes de pessoas que deveriam ser presas e que ouviam contato dele com o senhor Luciano”, alegou o advogado Antônio Lourenço.

O fato reverberou na Assembleia Legislativa e na imprensa nacional. 25 anos depois, Rossana Magalhães continua considerando o movimento como um divisor de águas na história quiteriense. “Me sinto orgulhosa de ter participado, não arredaria o pé de jeito nenhum e se fosse para fazer de novo, faria do mesmo jeito. Foi uma luta que mostrou a resistência dos trabalhadores e jovens naquilo que defendiam”, narra.

Fotos de Cid Barbosa, em Diário do Nordeste

Nos próximos dias, A Voz de Santa Quitéria continuará a série sobre os 167 anos, com fatos e personagens que marcaram a história de nossa terra e nossa gente.