Fotos: Arquivo |
A comunidade de Santa Quitéria acordou no dia 11 de janeiro de 2002, com um misto de profunda tristeza e estarrecimento, ao tomar conhecimento que a imagem da sua padroeira, datada de 1822, havia sofrido um atentado e sido queimada durante a madrugada, dentro da Igreja Matriz. O fato foi manchete nacional e chocou todo o País.
O ato foi praticado por Manoel Raimundo Mesquita (Manoel das Cobras), a época
com 32 anos. Ele dormiu dentro da igreja, retirou a imagem do altar onde
estava e junto com outras imagens sacras, bancos de madeira e adornos, jogou
gasolina e depois ateou fogo. Santa Quitéria teve 90% da cabeça queimada, 70%
das costas e parte da lateral direita, além da mão do lado direito que virou
cinzas.
No mesmo dia, Manoel das Cobras foi preso. Ele disse em depoimento que agiu “a
mando de Deus, movido por uma inspiração divina, para que seja proclamada a
justiça de Deus por todos os homens por ele amados”, segundo o delegado
Vicente Damasceno. A família apresentou um atestado médico, sobre estado de
saúde dele, que indicava sinais de esquizofrenia e outros problemas mentais.
No tempo em que o acusado permaneceu na Delegacia local, permaneceu cantando
louvores e lendo a bíblia, que foi encontrada dentro da Matriz com outros
pertences pessoais. Na mesma semana, ele foi encaminhado para o Hospital
Mental de Messejana, em Fortaleza.
A partir disto, foram empreendidos todos os esforços para restaurar e
recuperar as imagens danificadas. Liderados pelo pároco Edmilson Eugênio,
prefeito Tomás Figueiredo e pessoas da comunidade, contataram o escultor Dinho
Diniz, de Canindé. Os olhos que foram derretidos pelo fogo e as mil folhas de
ouro vieram de São Paulo. “A cabeça, para voltar ao formato normal, estou
usando pó de madeira cedro com cola, trabalhando oito horas por dia”, explicou
o artista, em entrevista ao jornal Diário do Nordeste.
O trabalho, baseado em fotografias trazidas pelos fieis, foi concluído em 12
dias e Santa Quitéria foi devolvida ao seu povo, numa missa de reintronização
celebrada com muita festa e fervor. “Foi meu primeiro grande trabalho, não
tenho palavras para agradecer a confiança que me foi depositada para executar
esta missão tão importante para os fieis desta terra”, disse Diniz, bastante
emocionado.
O padre Jacó Sidarta e o escritor Cel. Mauro Mororó guardam até hoje, cinzas e
pedaços queimados naquele incêndio. Recentemente, na exposição dos 200 anos da
Paróquia, o episódio foi exposto em imagens e recortes de matérias, porém
recordando principalmente a recuperação deste patrimônio para os quiterienses.
Fotos de Francisco Edison Silva e Antônio Carlos Alves (Diário do Nordeste)
e reportagem cedida pela TV Jangadeiro
Nos próximos dias, A Voz de Santa Quitéria continuará a série sobre os
167 anos, com fatos e personagens que marcaram a história de nossa terra e
nossa gente.