Durante a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2012, três deputados federais cearenses apresentaram emendas parlamentares individuais no valor de R$ 750 mil para a realização de investimentos fora do Ceará. A prática, apesar de legal, representará uma menor participação do Estado na divisão dos recursos da União para o próximo ano.
Entre as quatro emendas que "exportam" recursos de deputados cearenses para outros Estados, duas, no valor de R$ 200 mil, são destinadas ao Instituto Miguel Arraes, em Recife (PE). Em detrimento a realização de investimentos no próprio Ceará, o dinheiro público requisitado pelos parlamentares será utilizado para adquirir equipamentos e pagar funcionários da reforma do prédio do Instituto, na capital pernambucana.
Além desses investimentos, parlamentares cearenses também direcionaram R$ 300 mil para a construção de um Centro de Especialidades Médicas em Corumbá (MS), e R$ 250 mil para realização de obras de infraestrutura no pequeno município de Coromandel, no interior de Minas Gerais.
Na contramão, a generosidade da bancada federal cearense não encontrou retribuição no Congresso Nacional. Na tramitação da LOA 2012, nenhum deputado de outro Estado apresentou emendas destinando recursos ao Ceará.
O professor de Sociologia e Política da Universidade de Fortaleza (Unifor), Clésio Arruda, classifica esse tipo de prática como "no mínimo suspeita". Segundo ele, a atribuição dos deputados federais deve ser de representar sua unidade da federação no plano nacional, atuando pelo desenvolvimento social da região que o elegeu.
"O deputado é a voz de sua unidade da federação e disputa no Congresso por benefícios para essa localidade. Partindo dessa ideia, se temos um deputado usando os votos de sua unidade da federação para beneficiar outra, é no mínimo uma grande contradição, ou até mesmo uma fraude eleitoral. É difícil imaginar os interesses que estão envolvidos nessas ações", avalia.(Nem Ki Lask/AVSQ).